O CHIPPU FACILITA A ESCOLHA COM ALGORITMOS E CURADORIA HUMANA.
Sua pipoca acaba antes mesmo que você consiga escolher o filme que vai ver no streaming?Acredite,não é só contigo que isso acontece.
Segundo uma pesquisa divulgada em 2019 pela Nielsen,um usuário leva em média 7 minutos nesse scrolling pelo catálogo de plataformas como Amazon Prime,HBO Go e Netflix,sendo que 21%desistem quando não conseguem se decidir pelas opções.
O Chippu se propõe a resolver essa questão,mesclando curadoria humana e “algorítmica” para indicar filmes que façam sentido ao perfil de cada pessoa.Segundo Thiago Romariz,um dos fundadores:
“Vivemos a era da hiperinformação e do hiperconsumo.Com ‘um milhão de fontes de conteúdo’,fica difícil filtrar.Esse é um traço de comportamento não só do streaming,mas de várias outras áreas da nossa vida,como o noticiário”
Lançado no fim de maio,já durante a pandemia,o aplicativo rapidamente chegou a 120 mil usuários(conquistados sem investimento em mídia,segundo o empreendedor),que usam a ferramenta de graça.
A ideia do Chippu,porém,pipocou bem antes do coronavírus,há cerca de três anos.Na época,faltou um pouco de “fé” de Thiago em sua própria inspiração.
“SE NINGUÉM FEZ ANTES É PORQUE NÃO É UMA BOA IDEIA…” SERÁ?
Thiago é jornalista.Paralelamente ao Chippu,hoje ele atua como Head de Conteúdo e PR do Ebanx.
Quando idealizou o que viria a ser sua startup,ele era diretor de conteúdo do Omelete e chegou a acionar,na época,seus amigos e futuros sócios,os desenvolvedores Luigi Pedroni e Thamer Hatem(fundadores da empresa de tecnologia Happe,de Brasília).
Naquele momento,explica Thiago,o projeto não foi para a frente.
“Existem muitas resistências para se tirar um projeto do papel — e quando ele parece muito ‘óbvio’,mais ainda.Você fica pensando que alguém já fez isso e deu errado.Se não fizeram é porque não presta…”
O escopo inicial esboçado para o Chippu era um pouco diferente,diz Thiago.
“A ideia era que o aplicativo fosse um grande curador,cobrindo não só a parte de streaming,mas TV ao vivo,música,eventos e várias outras áreas do entretenimento.”
ELE BRINCA QUE EMPREENDEU PARA ATENDER UMA NECESSIDADE DA SUA MÃE
O projeto ficou lá,guardado em algum cantinho da cabeça de Thiago.E voltou com força por ocasião da pandemia.
O empreendedor brinca que montou o negócio para atender a uma necessidade da sua mãe,que assina dois serviços de streaming e não conseguia se decidir em meio à quantidade de opções disponíveis.
“Ela ficava me ligando todos os dias,principalmente no começo da quarentena,para indicar filmes.E aí eu falei:‘Mãe,vou criar um aplicativo para você usar e não precisar mais ficar me mandando mensagens no WhatsApp‘”
O contexto da Covid-19 parecia tornar a ideia ainda mais pertinente.De acordo com uma pesquisa da Kantar Ibope Media,73%dos usuários de internet do país disseram que aumentaram o consumo de streaming pago ou gratuito durante esse período de distanciamento social.
Assim,com a pandemia em curso,Thiago resolveu que era hora de tentar mais uma vez.
DO BRAINSTORMING POR WHATSAPP AO LANÇAMENTO,DUAS SEMANAS DEPOIS
Numa sexta-feira,Thiago desenhou algumas telas do aplicativo para simplificar o projeto anterior e mandou por WhatsApp à dupla de amigos,Thamer e Luigi.
Os três testaram como seria o processo de sugestão de filmes e séries.E resolveram focar inicialmente apenas nos longas(segundo Thiago,os processos de consumo dos dois produtos são muito diferentes).
Em duas semanas,com a entrada de um sócio-investidor(amigo de infância de Thiago,Vitor Porto aportou 40 mil reais no negócio),o aplicativo foi lançado.
Escolher o nome foi o último passo.“Veio na minha cabeça a febre do K-pop e comecei a procurar palavras referentes a esse universo”,diz Thiago.
Dessa forma,ele chegou ao termo chippu — que não é coreano(como o gênero musical),mas japonês.
“Chippu significa ‘dica’.Não é exatamente o modo como os japoneses falam,mas a sonoridade da palavra,que vem de tip,em inglês”,explica.
O empreendedor também curtiu o som parecido com “shippar”,gíria(extraída do sufixo de relationship,“relação”,“relacionamento”)que significa a torcida pela formação de um casal.
“Assim como as pessoas ‘shippam’ casais,a gente ‘shippa’ o usuário com o filme”,brinca.
A CURADORIA HUMANA AJUDA A SUGERIR FILMES DE “FORA DA BOLHA” DO USUÁRIO
O Chippu sempre sugere um filme por dia;o usuário também pode solicitar uma dica a qualquer momento — informando o gênero e a plataforma em que deseja consumir o vídeo.
Para decifrar o gosto do usuário e recomendar filmes entre 20 mil títulos de nove plataformas(Amazon Prime,Apple TV,Crunchyroll,iTunes,Globo Play,Google Play Movies,HBO Go,Netflix e Telecine),a startup usa inteligência artificial e curadoria humana.
Quando você abre o aplicativo pela primeira vez,um quiz surge para entender suas preferências cinematográficas(caso essa parte seja pulada,personalizações vão sendo registradas conforme você navega no app).
Enquanto o machine learning se encarrega dessa triagem,a recomendação em si cabe sempre a um ser humano — e ajuda a propor filmes que fogem do “padrão”:
“A cada dez sugestões que damos,três têm que ser de ‘fora da bolha’ do usuário.Para isso existe a curadoria humana.O legal é descobrir algo que você não conhece:pode ser até que você não goste do filme,mas vai entender que estamos fazendo uma indicação realmente personalizada”
Caso o Chippu sugira filmes já vistos,basta marcá-los como “assistido” — e assim ajudar o aplicativo a aprender mais sobre suas preferências.
No app,é possível ainda encontrar playlists temáticas;um exemplo recente foi a lista “RIP Chadwick Boseman”,com filmes estrelados pelo ator de Pantera Negra.
A CONQUISTA RÁPIDA DE USUÁRIOS ACABOU ESBARRANDO NA TECNOLOGIA
Na estreia,diz Thiago,a startup chegou a conquistar 10 mil usuários em apenas um dia — e,por conta dessa demanda,precisou lidar com falhas nos downloads.
“Estávamos usando apenas um computador para segurar nosso serviço e o sistema não aguentou.Acabamos perdendo usuários,foi um baque grande… Por outro lado,aprendemos a nos preparar melhor na parte técnica”
Mesmo recém-lançado(e com ajustes em andamento),o Chippu já monetiza por meio de publicidade tradicional.Há contratos fechados com a plataforma de animes Crunchyroll,a startup de entrega James Delivery (que pertence ao GPA)e o canal Telecine.
Thiago explica como funciona uma parceria com o James Delivery. “Oferecemos às pessoa um desconto no James Delivery atrelado a um filme que indicamos.Por exemplo,recomendamos Pulp Fiction comendo um duplo bacon como eles fazem lá,ou A Dama e o Vagabundo combinado com espaguete.”
O time está criando mais possibilidades para os clientes anunciarem no Chippu.
“Temos um podcast duas vezes por semana,vamos ter a versão web com mais espaços de publicidade e serviços na área de notícias em que iremos fazer newsletters específicas.”
O PLANO É MONETIZAR TAMBÉM VENDENDO PESQUISAS DE COMPORTAMENTO
O Chippu também pretende monetizar oferecendo pesquisas de comportamento e consumo para players relacionados à indústria do entretenimento.
Em média,a retenção do usuário dentro do Chippu é de quatro minutos por sessão.Tempo suficiente,diz Thiago,para que a inteligência artificial extraia comportamentos de consumo.
“Como temos mais de 120 mil usuários,conseguimos fazer um recorte de comportamento em tempo real.Pelo nosso dashboard é possível saber qual o serviço de streaming está em alta,o gênero de filme mais popular a cada dia e horário,o ator preferido,o cartaz do filme que chama mais atenção…”
Ainda não há clientes nesse formato;a equipe está refinando a plataforma.
“Queremos deixar esse modelo pronto para o lançamento nos Estados Unidos e no México,provavelmente em outubro.”
A IDEIA ORIGINAL,COBRIR TODA A ÁREA DE ENTRETENIMENTO,SEGUE NO RADAR
Hoje,diz Thiago,além de ser uma ferramenta de recomendação,o Chippu é quase uma rede social.
É possível criar seu perfil,seguir e interagir com outras pessoas,montar playlists,deixar sua avaliação(já são 300 mil avaliações registradas)ou escrever críticas sobre os filmes(o app conta atualmente com 20 mil resenhas).
Toda semana é agregado um feature novo.Prevista para a segunda semana de setembro,uma área de conquistas virá para engajar os usuários.“Se ele viu,avaliou e escreveu críticas de todos os filmes de Harry Potter,por exemplo,ganhará uma medalha de Hogwarts.”
O empreendedor considera que o Chippu está em versão beta.“Provavelmente,a ‘versão 1.0’ será lançada até o final do ano,quando vamos incluir séries no catálogo,uma aba de notícias e a versão web.”
Mesmo com a alta adesão(e a sondagem de investidores),ele mantém os pés no chão.
“A dificuldade é manter esse sucesso estável.Por mais que o streaming seja algo que veio para ficar,o Chippu não pode depender só disso para ser sustentável.O desafio é se reinventar e se adaptar”
Daí que a ideia original — cobrir toda a área de entretenimento — continua no radar.
“Queremos tomar conta de streaming e cinema neste ano.Aí,partimos para o ‘ao vivo’.Assim,poderemos ajudar o usuário a montar sua agenda completa de entretenimento.”
Fonte:DRAFT