Diversos países ao redor do mundo têm aderido à campanha 4 Day Week, que incentiva a redução da jornada de trabalho semanal para 32h – são quatro dias da semana trabalhados, sem redução de salário. O Reino Unido é o principal protagonista desta campanha, mas projetos similares têm sido realizados em países como EUA, Irlanda, Canadá, Austrália e Israel.
O intuito é de que, com trabalhadores mais descansados, a produtividade aumente. Mas no Brasil, a proposta precisa ser analisada com atenção, como aponta o escritor Uranio Bonoldi, especialista em tomada de decisão, carreira e negócios.
“Simplesmente reduzir de 5 para 4 dias a jornada de trabalho, sem que exceda as 8h
trabalhadas, pode trazer um problema econômico, e alguém vai pagar essa conta”, pondera.
Segundo Bonoldi, é difícil que se mantenha o mesmo nível de produtividade com tamanha redução de carga horária, o que faz com que o custo de produção e execução de serviços aumente, e isso se voltar contra o trabalhador. “O mercado começa a se autorregular, demitindo o funcionário e recontratando outro, que esteja desempregado, por um valor menor, que compense a redução da jornada”.
De acordo com o especialista, a pressão inflacionária que se vive no Brasil, considerando tanto aspectos da economia e da política nacional quanto o cenário pós-covid e guerra na Ucrânia, dificultam a adoção desse tipo de projeto. “Não acho que o momento é adequado, precisa ser algo bem pensado para que não se reverta contra o trabalhador.
Creio que a medida não viria eventualmente a atender um objetivo de melhoria de
qualidade de vida, mas sim trazer o risco de se perder empregos”, diz. Uma alternativa possível seria reduzir para 4 dias da semana trabalhados com expediente de 10h por dia. “Assim é possível uma compensação sem perda de produtividade, os custos de prestação de serviço não se alterariam”. No entanto, a legislação limita até 8h de trabalho por dia, então cada contratante precisaria fazer uma negociação direta com seus colaboradores.
“Precisa de mudança de legislação para haver flexibilização no número de horas trabalhadas sem que haja aumento de custo. Porque se houver aumento, vai ter
repasse de preço”, opina.
Atualmente o Reino Unido conta com cerca de 3 mil trabalhadores de mais de 30 setores da economia seguindo esse modelo. O projeto piloto envolve parceria entre empresas e governo, com mais 70 instituições envolvidas, e deve seguir até dezembro.
“Outros países implantaram esse modelo, mas são lugares com uma economia muito mais forte, baixo nível de desemprego e que tiveram mudanças de legislação e regulação, de forma que a coisa se equalize, sem aumento de custo para empresários que, no futuro, podem se voltar contra o próprio trabalhador. No Brasil, a proposta precisa ser estudada com mais atenção”, finaliza.
Sobre o autor:
Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre “Poder e Tomada de Decisão”. Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.
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