Notícias virais sobre dinheiro fácil, como a de um jovem que transformou R$ 30 mil em R$ 700 mil durante a pandemia atrai para a prática da compra e venda diária de ações. Investidores incautos acumulam prejuízos e geram lucros a quem surfa nessa onda vendendo cursos, livros e ilusões.
No ínicio deste ano, tornou-se um viral nas redes sociais a trajetória de um jovem carioca de 24 anos e origem humilde que, atuando como day trader durante a pandemia, conseguiu transformar R$ 30 mil em R$ 700 mil. Contudo, histórias como essa atraem outros investidores para a ilusão do dinheiro fácil e rápido. A maioria acabam acumulando prejuízos e, alguns, como vimos no Fantástico desse domingo, acabam até caindo em golpes.
Histórias de superação como essa costumam ser inspiradoras. Contudo, a forma como ela é compartilhada na internet acaba confundindo as pessoas e reforçando uma compreensão equivocada de que um investimento de altíssimo risco pode ser uma fonte de renda.
Pesquisas mostram que quase a totalidade dos seguem por esse caminho têm prejuízo. Os pesquisadores Fernando Chague e Bruno Giovannetti, da Fundação Getúlo Vargas, chegaram a conclusões espantosas em seu trabalho.
Foram acompanhados todos os indivíduos que começaram a fazer day trade em ações no mercado brasileiro entre 2013 e 2016 (98.378 indivíduos), chegando-se nas seguintes revelações:
de 300 pregões com day-trades);
300 pregões), a performance média foi negativa;
médio acima de 100 reais em mais de 300 pregões.
Nas palavras dos próprios pesquisadores: “Entre os 1.551 que persistiram, apenas 8 conseguiram apresentar lucro bruto diário médio maior do que a remuneração de entrada de um caixa de banco (160 reais por dia).”
No entanto, ao se observar que o número de novos investidores, inclusive muito jovens, nota-se que os resultados parecem não ter desanimado quem acredita na possibilidade do dinheiro fácil.
“A essência de se comprar uma ação é você se tornar sócio de uma grande empresa. Então, qual o sentido de você ficar comprando e vendendo a sua sociedade diariamente?”. Quem traz essa reflexão é o Educador Financeiro do canal “Dinheiro Com Você”, William Ribeiro, que também faz o alerta para os riscos dessa prática.
“A grande maioria das pessoas que estão se interessando pelo investimento em ações ainda acredita que tudo se resume a ficar acompanhando gráficos e apostando nas subidas e descidas dos preços. Day trading é uma atividade extremamente extenuante, que já levou vários investidores e famílias à ruína. Às vezes, o pior que pode acontecer é você começar ganhando dinheiro e acreditar que descobriu as regras do jogo. Os raríssimos day traders que ganham dinheiro, realizam a atividade como seu ofício, não é um hobby para se realizar no litoral ou no semáforo (aliás, quem, em sã consciência, deixaria de tomar caipirinha na praia para operar?).”
O Sonho do Dinheiro Fácil
Os Investidores que têm mais chances em conseguir lucro no day trade são aqueles que menos precisam disso para sobreviver. Pessoas que já construíram patrimônio e levam esse capital para o mercado financeiro para investir, para rentabilizá-lo.
“Quem tira dinheiro do seu próprio orçamento familiar para investir já começa perdendo, porque vai ser impossível não deixar o lado psicológico interferir nas operações”, explica o Educador Financeiro.
“Algumas pessoas afirmam que, assim como em qualquer outra atividade, poucos são os que se dedicam e têm sucesso. No caso do day trading isso é uma falácia, porque as pesquisas mostram que os operadores não ficaram melhores com o passar do tempo. Além disso, para efeito de comparação, as chances de ser aceito em Harward são de 4,7%, muito superiores aos 0,13% dos daytraders que têm como resultado mais de R$100 brutos por dia.”, destaca.
Quem realmente ganha com o day trade?
O grande foco das pesquisas sobre day trade é sobre consistência. Foi demonstrado que quanto maior é o número de pregões operados, menos provável é a sua chance de sucesso.
Desta forma, sempre teremos alguns vencedores pontuais, como certamente é o caso do jovem estagiário que se tornou “milionário” repentinamente. Ainda assim, por mero efeito da aleatoriedade, é bem possível que alguns poucos traders tenham sucesso repetidas vezes. “Se fizéssemos um campeonato de cara ou coroa, o campeão brasileiro certamente teria acertado um número bizarro de vezes, talvez dezenas delas. Nem por isso teria algum mérito por suas escolhas, mas certamente seria capa de revista e poderia lançar um curso ensinando como ser um vencedor nesta modalidade.”, afirma Ribeiro.
Definitivamente, day trade é um negócio lucrativo. Mas, de acordo com os estudos, quem faz dinheiro com ele são somente as corretoras (que ganham taxas), a Bolsa de Valores e os vendedores de curso.
William faz um último alerta a quem, mesmo assim, ainda pensa em arriscar.
“Tome cuidado com os gurus, com as dicas das outras pessoas. Será que se alguém tivesse o mapa da mina de ouro iria compartilhar com você e precisaria do seu dinheiro? Acrescento que, se tais dicas fossem divulgadas, brevemente seriam inócuas, uma vez que ficassem em domínio público e todos copiassem a estratégia.
Se o próprio dono da corretora soubesse desta fórmula, certamente criaria um exército de robôs, operando 24 horas por dia, o que certamente daria muito menos dor de cabeça do que administrar milhares de clientes dentro de uma corretora.
Se você deseja ser um day trader, já sabe que as chances estão contra você e que isso será um “trabalho” dos mais desgastantes e perigosos, diga-se. Caso contrário, não nunca priorize day trading com relação ao seu próprio ofício, porque é nele que você sabe ganhar dinheiro e pode aperfeiçoar-se de verdade”, conclui.
Entender a Jornada do Investidor evita erros e prejuízos
Em uma definição simples, o Educador Financeiro e apresentador do canal “Dinheiro Com Você”, William Ribeiro, explica o conceito da Jornada do Investidor como sendo “o processo que reflete a evolução das pessoas no domínio dos conceitos do mundo dos investimentos”.
Ter a consciência de como funciona essa jornada e seus possíveis caminhos, além de torná-los mais fáceis, é condição essencial para ter uma relação saudável e rentável com os investimentos.
“Muita gente me pergunta como começar e onde investir. E é logo no começo que as pessoas cometem dois erros principais: superestimar ou subestimar os riscos. Para o primeiro caso, é mais fácil: basta buscar conhecimento e ter disciplina para superar o medo de investir.
Já o segundo erro é de solução mais complexa. É preciso ter ciência de que investimento nenhum deixa ninguém rico no curto prazo. Mas também implica domar-se em seus instintos para não pular de cabeça em investimentos cujo risco é incompatível com seu perfil e jornada do investidor”, explica Ribeiro.
Em qual ponto inicia a sua jornada?
A jornada do investidor é uma estrada repleta de ramificações e com diferentes pontos de partida. Um único caminho errado pode atrapalhar e retroceder anos de caminhada, como alerta o Educador Financeiro.
“O seu extrato bancário é um resultado que pode estar positivo ou negativo, refletindo um balanço das boas decisões financeiras da sua vida, frente à aquelas apostas (ou gastos desnecessários) que retiraram dinheiro da sua conta.
Um bom investidor sempre se questiona a respeito do quanto pode perder, ao passo que os iniciantes irremediavelmente procuram por investimentos cujo risco não podem suportar, como na renda variável”, pondera Ribeiro.
Para saber de onde um novo investidor deveria partir, basta uma análise simples para um primeiro diagnóstico das três possíveis situações que Ribeiro explica abaixo:
Antes de pensar em aplicar qualquer quantia, a melhor coisa a fazer é livrar-se das pendências. É impossível encontrar qualquer investimento que tenha um retorno superior aos juros cobrados pelas instituições financeiras, especialmente se estivermos falando do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial.
Além dos juros altos, as dívidas tiram o sossego e a liberdade. Então, nesse caso, o primeiro passo é olhar para trás, encontrando um meio de quitar todas as suas pendências e focar na geração de renda para aumentar seus recursos.
Não é raro encontrar pessoas que tentam justificar sua ansiedade em colocar dinheiro em algum investimento, mesmo estando endividadas. “Se eu não fizer dessa forma eu não começo” ou “Dívidas eu sempre vou ter, se não for assim, não consigo comprar nada”, estão entre os absurdos que cegam as pessoas para o problema.
Como falamos no início, a disciplina é indispensável para começar essa jornada. E se este argumento ainda não for suficiente, partimos para um argumento infalível: a ponta do lápis.
Vamos imaginar um aspirante a investidor hipotético que está começando errado a sua jornada e deu início a um plano de previdência privada com contribuições mensais de mil reais, ao mesmo tempo em que está utilizando o limite de seu cheque especial. Veja só:
Conta com Limite (Cheque Especial) | Plano de Previdência | |
Saldo inicial (R$) | 0,00 | 0,00 |
Após primeiro aporte (R$) | -1.000,00 | 1.000,00 |
Juros ao mês (exemplos) | 8 % | 0,5 % |
Perdas x Ganhos (R$) | – 80,00 | 5,00 |
O que vemos na tabela acima é uma pessoa que, para ganhar R$ 5,00 de rendimento, pagou R$ 80,00 em juros da dívida. Se essa atitude se estende ao passar do tempo, a bola de neve dos juros fatalmente acabará com qualquer possibilidade de progresso financeiro na Jornada do Investidor.
Então, não há outro caminho que não seja acabar com todas as dívidas, buscando aumentar a renda e economizar mais, para conseguir sobrar mais dinheiro para investir.
Aqui, estão consideradas as pessoas que já não têm dívidas e decidiram começar a investir pela primeira vez, começando do zero. Ou seja, não têm nenhuma reserva de emergência ou, como costumamos chamar, um “colchão financeiro”. Esta é uma etapa indispensável antes de seguir para investimentos de maior risco.
Seja para preparar o colchão financeiro, ou aportar em investimentos mais arrojados, é fundamental garantir que, na balança, o ganho seja maior do que o gasto. Afinal, toda riqueza construída no mundo foi edificada sob a quantia que se foi poupada, evidentemente.
O Colchão Financeiro é o passo mais importante da jornada do investidor por um motivo: garante que a segurança financeira da família não será comprometida, caso um investimento se mostre inviável, ou para momentos de escassez na geração de renda (seja por motivo de demissão, falta de clientes, etc);
O ideal é conseguir separar, no mínimo, 10% dos ganhos e destiná-los para uma reserva. Lembrando que os 90% restantes precisam ser suficientes para cobrir todas as despesas do mês. Você poderá afirmar que realmente já conta com um colchão financeiro formado quando essa reserva for o equivalente à soma de pelo menos seis meses de todos os seus gastos mensais. Há quem se sinta seguro com um montante que cubra um ano das despesas.
Para a reserva de emergência, não é adequado optar por ativos de maior rentabilidade, justamente por apresentarem maiores riscos. Para este objetivo financeiro, o ideal é aproveitar os benefícios que oferece a Renda Fixa, que são o baixíssimo risco e a liquidez, como é o caso do Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária.
É importante ter a consciência de que ninguém ficará rico investindo o dinheiro do colchão financeiro. A função da reserva é prover recursos que estejam prontamente disponíveis para qualquer adversidade que a vida nos apresentar, como problemas de saúde, perda de emprego ou acidentes.
Se uma pessoa não tem dívidas e já conta com uma reserva financeira de emergência, ela pode começar aqui a jornada em direção ao acúmulo de patrimônio.
“A partir daqui os caminhos são muitos, por onde seguir vai depender muito do perfil de cada um, de quanto se tem para investir, prazo, quais os planos desse investidor para o dinheiro, entre diversos outros fatores que podem influenciar nas decisões e seus resultados. Exatamente por isso, acredito que o mais interessante seja adotar o conceito que chamamos de “diversificação financeira”, avalia o Educador Financeiro.
Dentro da própria Renda Fixa também há opções que oferecem um pouco mais de rentabilidade, como pode ser o caso do Tesouro IPCA+ ou Pré-Fixado. Porém, são produtos que possuem um prazo de vencimento, cujo resgate antecipado (embora seja possível) pode trazer perdas pela chamada “marcação a mercado”.
Contudo, mesmo optando pelos investimentos mais sofisticados desta categoria, a Renda Fixa não oferece retornos muito grandes. Via de regra, são instrumentos que utilizamos mais como proteção do poder de compra de um dinheiro guardado, ou seja, visando protegê-lo da inflação.
Para ganhos maiores (e incertos, diga-se), é indispensável dar continuidade nessa jornada. Veja que primeiro pensamos em proteger, para só então subirmos o próximo degrau da jornada.
Um produto que costuma ser bastante indicado para quem deseja dar os primeiros passos na renda variável, são os Fundos de Investimento Imobiliários. Com quotas tão acessíveis como na casa dos cem reais, os FII possibilitam que pequenos investidores participem de empreendimentos imobiliários de alto padrão, como shoppings, lajes corporativas e galpões logísticos.
Por possuírem receita razoavelmente previsível dos aluguéis e do lastro imobiliário destes ativos, a oscilação das quotas (negociadas na bolsa de valores) não costumam sofrer grandes volatilidades, sendo características ideais para quem está começando a conviver com um pouco mais de risco.
A partir daí, o investidor pode se dar ao luxo de experimentar, sempre aos poucos e aplicando a diversificação, investimentos mais arrojados, como ações de empresas na bolsa de valores, criptomoedas, e até no mundo do empreendedorismo.
Independente do ponto de partida, o importante é começar
Acumular patrimônio é uma questão de disciplina e de dar tempo ao tempo, tanto para que os ativos financeiros possam gerar frutos (os proventos), quanto para que o investidor não pule etapas da jornada financeira.
“Definitivamente, investir não é só para gente rica. Mas, para ficar rico, investir é primordial. Tudo a seu tempo, um passo de cada vez. A jornada do investidor é fundamental para que, um dia, haja a independência financeira, em que o dinheiro trabalha para o investidor, não o contrário. Mas só é possível para aqueles que entendem e respeitam a jornada do investidor”, finaliza Ribeiro.
Sobre William Ribeiro
William Ribeiro é CEO do Dinheiro Com Você, empresa de consultoria, treinamento e Educação Financeira, focada em finanças pessoais e investimentos, além de uma produtora de conteúdo multiplataforma da qual faz parte um dos maiores e mais importantes canais de educação financeira do pais: www.youtube.com/dinheirocomvoce.
Possui título de MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é graduado em Engenharia da Computação pelo Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Sua experiência de mais de 20 anos no empreendedorismo lhe trouxe a independência financeira e o consequente maior propósito da sua vida: levar seu conhecimento adiante, ajudando milhares de pessoas a terem uma vida financeira mais próspera.
Além de especialista no mercado financeiro, William também é autor e prepara o lançamento de seu primeiro livro (pela Alta Books) sobre o tema, uma publicação alinhada com o propósito de todo o seu trabalho que é desmistificar os investimentos no Brasil.
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